quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Quando o anjo me ensinou


Desci uma ladeira de quase um quilômetro para encontrá-lo.
Num carro, se não me engano azul. Sim, azul, com alguns homens e entre eles, o de cabelos longos e loiros, com o braço para fora da janela. Másculo, viril, com aquela pose e o braço tatuado para fora da janela.
Eu, descendo a rua principal.
Com nome de anjo e tatuagens de demônios. Ele era um menino grande.
Voz anazalada, dentes mau tratados, pura cocaína por entre as gengivas.

Dia desses lembrei de seu sorriso tímido. Seus cabelos longos e soltos naquela noite. Sim, única vez que eu o vira assim. Decerto por querer impressionar-me. Cabelos brilhantes, cheirosos, lisos e loiros. Camiseta de cor única, jeans e sapatos. Camiseta sem perfume, mas com cheiro suave do amaciante misturado ao odor da pele.
Dedos longos, mãos pesadas, braços marcados... toque suave.
O anjo e o demônio.

Noite de festa, cidade toda se encontrando na casa mais tradicional do lugarejo.
Olhavam-se todos entre si, estranhamente. Uma doce menina, desdenhada quando da companhia do menino grande. Quem o conhecia? Quem sabia dele, da sua história feliz ou triste?
Eu sabia, não somente de seus cabelos loiros e seus braços tatuados, mas de sua essência, de seu pai morto e da falta que ele lhe fizera. De seu irmão especial, com o rosto semelhante ao seu, quase idêntico, não fosse os cabelos negros.

Eu sabia de sua poesia, de suas letras recitadas do nada e de sua mania de querer levar minhas sardas consigo. “Pô mina, eu te amo”. Primeira vez que ouvira algo assim: tão puro, tão alto e em bom tom. Dois braços abertos imitando Cristo na cruz e gritando seu sentimento.
O abraço, o cheiro da camiseta, o sorriso de canto de boca, a coisa mais pura que já senti.
Um anjo e um demônio, num só.

Sem compaixão, em seu ato de coragem e nobreza, o fizeram morto brutalmente.
O anjo partira. Subiu aos céus, hora de encontrar seu pai e de brincar de desenhos de flores com os anjos pequenos. Hora de eu o ter para sempre.
Meu demônio virou anjo e me ensinou o que é o amor.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Empoeirado...

... se mostra o mundo,
Ao nos determos para morrer;
Queremos, então, o orvalho -
As homenagens têm sabor seco.

O pendões afligem um rosto agonizante,
Porém o mais prosaico leque,
Movido por mão amiga,
Feito chuva nos refresca.

Que minha seja a missão,
Quando tua sede chegar,
De trazer os bálsamos de Hybla
E os rocios da Tessália.

Emily Dickinson

sábado, 8 de novembro de 2008

Equação da dor

O amor é exato.
Sou o resto
de um cálculo perfeito,
a incógnita que ama
mas que não serve em tua vida
este gráfico inconstante
Mas por que
Estou em seu domínio
Se não sou a tua imagem?

Poema do meu grande amigo Everton Santos

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Quente, viva: uma cor


Nunca gostei da cor vermelha. Pelo menos para vestir. Acessórios sim, tipo tênis all star, cintos, alguma regata sob uma jaqueta jeans... Tinha pra mim que era uma cor vulgar.

Leoninos são apaixonados. Leão, signo do fogo. Fogo vermelho, chamas ardentes.
De manhã, em pleno finalzinho de outubro, o céu estava vermelho. Nuvens aradas pelo vento. Impressão que dava era que queimaríamos os pés se passássemos descalços por elas.

Vermelho.
Cor da paixão. Cor viva, reluzente, forte. Dia desses me falaram do pôr do sol. Imaginei-o avermelhado. Imediatamente lembrei dele hoje pela amanhã. Apesar de não tê-lo visto. Os detalhes avermelhados da natureza me chamaram a atenção em todas as andanças que fiz hoje cedo.

Por um momento, o sol apareceu, limpo detrás dos morros. Refletiu nos meus cabelos, vermelhos também.
Meu casaco de veludo refletia no retrovisor do carro, misturado com as nuvens, ainda aradas. Tão lindas terras imaginárias, lavradas por animais imaginários. Iguais às tardes que eu via meu avô lavrar a terra que preparava para o plantio de aipim. O calor daquele vermelho me tomou.

Associei o crepúsculo da manhã à mensagem no celular, falando do pôr do sol visto de uma janela no finalzinho de um domingo, meu casaco de veludo vermelho, fios reluzentes dos meus cabelos refletidos no espelho ao meu estado de espírito, às vontades e as saudades...
É, acho que gosto de vermelho. Cor viva, cor quente, cor da paixão!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

É o que tenho para ti



Não te deixarei nenhuma fortuna
Não tenho anéis de brilhantes ou colares de pérolas

Não tenho casa em meu nome, nem mesmo um automóvel quitado

Não tenho roupas de marcas famosas


Posso te deixar um mundo de sorrisos e de abraços apertados

Deixo-te meu amor infinito e nem vais precisar de procuração para tomares posse

Ele é todo teu

Minhas mãos em tuas bochechas

E meus lábios finos a beijá-las: lembranças


Não tenho conta bancária recheada de reais

Tampouco dólares ou euros, que nem sei qual a cotação hoje

Não faz diferença do quanto juntei nesta vida

Vivi pouco até aqui para juntar algo

Mesmo assim, meu mundo é teu


Marquei meu corpo com teu nome e dele não sairá mais

Tenho meu exemplo de honestidade para te deixar

Minha honradez

Não siga os meu erros

Tu vais errar também, mas não repita os meus


És inteligente o suficiente para não cometê-los

Lute como uma guerreira e ame como uma santa

Não te arrependas de seus erros, mas evite cometê-los

Penses duas, três, mil vezes antes de agires

Dou a ti meu amor eterno

Entrego a ti minha alma


Olhes para nosso amor e o tenha como base para tua luta

A vida é de luta

Mas se colhe bons frutos

Alguns azedos, outros extremamente doces

Não reclames de nada

Sigas em frente e proves para si mesma a capacidade que tens

Não proves para mais ninguém, somente a ti mesma


Sejas honesta consigo e serás honesta com o mundo

Amo-te mais que a mim mesma

Sigas teu coração em plenitude

E se quiseres seguir alguns de meus passos

Que sigas os que eu acertei

Os passos em falso, que te sirvas de lição sem ter que tomá-las para si


É isto que te deixo, minha querida Laura.

Um amor incondicional

Um amor que só vi uma vez nesta vida: o de minha mãe para comigo

E este amor, estendo a ti

À minha filha, com todo amor do mundo

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Emily Dickinson

Improvável, sem a menor chance -
Um sorriso muito parco, uma palavra excessiva

E longe dos céus, como o resto -

A alma, tão próxima do Paraíso -


E se após longa jornada a ave,

Por amores confundida como ocorre aos mortais,

Esquece o segredo de sua asa

E, com apenas um ramo interposto, perece?

Ó, errantes pés,

Ó, espectral rainha!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Uma ânsia...

Dois homens. Ambos bêbados. Ambos adultos e barbudos. Estavam num boteco de esquina. Numa cidade que já foi mais rica do que é hoje. Dois homens bêbados que estavam num boteco de esquina. Mesas circundando o recinto. Algumas delas com outros homens em seu redor. Jogando cartas. Não sei qual jogo, mas sei que eram cartas.

Havia bebidas lá. De todos os tipos e outras ainda que não consegui identificar.
Mesas abarrotadas de cartas e bebidas. Pares de mãos para todos os lados. Eu observando de longe. Dois homens, ambos bêbados. Agora do lado de fora do boteco. Adultos e barbudos. Um homem segurou o outro homem. O soco no nariz e uma rasteira nas pernas. Caíram. Os dois homens rolaram pela calçada em frente ao boteco.

Mais homens bebendo do lado de fora, sentados em suas cadeiras.
Bebendo e assistindo os dois homens bêbados se baterem. Eu observando de longe. A blusa de um dos homens rasga e ele fica mais furioso. Aponta o dedo para o nariz do outro homem e diz que ele vai pagar por isso. Os homens, os dois, bêbados e machucados. Os outros homens bebendo e assistindo a tudo passivamente.

Um dos homens foi embora e o de blusa rasgada retornou ao interior do boteco.
Peito estufado, ele batera forte no outro. E o outro foi embora, com o rabo entre as pernas. Peito estufado, blusa rasgada, cerveja na mesa e as cartas lá. Os pares de mãos o aguardavam para terminar a jogatina. Liguei o carro, fui embora com ânsia de vômito. Dois homens, ambos bêbados e eu, com ânsia de vômito.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O juízo final

Na esquina mais empoeirada que havia naquela cidade, lá estava ele. Sim, lá estava o grande mestre das confusões. Uma espécie de Jasse James do século XXI.

Difícil compor uma fisionomia para aquele rosto cheio de rugas e marcas firmadas pelo sol. Mãos calejadas e braços fortes do peso que carregava cotidianamente. Par de botas não mais preto, mas marrom da poeira da estrada. Lá na esquina, lá estava. Mais uma vez as pessoas passavam por ele e baixavam a cabeça. Tinha fama de delinquente, organizava confusões pelos lugares por onde passava. Era odiado por gente de família e venerado pelos foras da lei.

Mas o que fazia ele naquela encruzilhada que dava para o centro da cidade? Tinha mãos calejadas e agora suadas. Seu jeans surrado e camisa com a gola quase em trapos. Coração quase saltando boca afora, ritmado ao seu estado emocional. Assobiava para aguentar a angústia que assolava aquele momento. Na esquina, lá estava ele. Um ônibus, outro também, e nada. Nada de chegar quem ele tanto aguardava. Para quem o avistava de longe sentia pena, piedade daquela alma que fizera tanta atrocidade nesta vida. Custaria pagar tudo que fez ainda na outra. Mas ele sabia que tinha o direito daquilo. Sabia que se firmasse pé naquela esquina, seguiria um caminho diferente. Seguiria o caminho da paz e obediência a Deus e aos homens de bem, assim como sua matriarca o ensinou.

Mais um ônibus, agora o último do dia. Levantou-se do meio fio, onde ficou sentado durante horas e horas e avistou alguém saindo daquele coletivo. Saias longas, sapatos baixos, bustos fartos... Em seguida, um senhor que caminhava com dificuldade; prestou-se a ajudá-lo e assim, uma desculpa para ficar ainda mais próximo do ônibus. Conseguia avistar uma fila de passageiros naquele corredor sem fim. Mas não esperou muito, após descer a sexta pessoa, quem ele tanto aguardava chegou. Um sapato preto brilhante e um tecido azul escuro sobre as pernas. Uma bolsa discreta e humilde. Via-se que ali dentro não havia muita coisa. Figurino ajustado, elegante, apesar de simples e bem cuidado. Sim, chegou quem tanto esperava.

Descia naquela esquina seu irmão mais novo. Quase uma versão sua de tão parecido. Vindo de um lugar distante e próspero. Moço estudado e já com uma profissão em sua carteira. Mas sua vida mudaria dali por diante, assim como a do resto da família. Vindo de longe, trazendo a esperança de uma vida mais tranqüila à sua mãe que moribunda estava angustiando a presença do que restava de sua família em casa e junta.

Um abraço fraterno e um aperto de mão saudoso. Sim, a vida prometia uma segunda chance. Medo, apreensão da perda, mas a compensação de realizar um último pedido de quem o criou e tanto fez para que seguisse seus bons exemplos. Pretendiam seguir o mais rápido possível para sua casa, alguns quilômetros daquela esquina. Fez conforme prometera à sua mãe, e agora desejava partir em paz. Naquela esquina, no chão de terra vermelha, caído diante de seu irmão e de seu juízo final, disse: “- cuide de nossa mãe, ela merece uma segunda chance”.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Longa madrugada

Uma madrugada mais
Vento que uiva, daqueles de dar medo
Daqueles de rezar
Vento de levantar a cortina
Vento de refrescar

Madrugada longa
Assustada no meio dela
Despertando do sonho
Olhando a claridade que vem das
luzes da rua
Entre as frestas da janela

Olhando o teto que agora é negro
E os estalos da madeira
Vento que uiva
Levanta a cortina
Sozinha e sem dormir

Mais uma madrugada
De vento uivante
Sonolenta, mas sem concentração
Encosto a cabeça na parede
Sentada na cama
Pernas cobertas pelo lençol

Que penso
Por que penso
O que resolvo
O que sinto
Calor e o vento fresco

Cabeça pesada na parede
Durmo sentada
Dores pelo corpo e os sonhos
Uma luz do meu lado
Despertador

Uma madrugada mais acabou

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Muito obrigada e um sorriso


"Mas a gratidão é tão doce e é-me tão necessariamente doce amar que a menor carícia do ar desperta um agradecimento em meu coração. A necessidade de gratidão ensina-me a fazer felicidade de tudo o que vem a mim".


Frutos da Terra de André Gide. Este trecho, tenho em meu computador e deparei com ele hoje pela manhã. Enquanto isso, tocava Roll Over Beethoven do Chuck Berry no media player. Deu vontade de levantar da cadeira, sair rodopiando em pleno escritório da empresa. Não fiz, nem farei, mas meu tronco mexeu, inevitável não mexer com esse som estimulante, com o reflexo do sol que entrava pela janela e com a felicidade que estava sentindo.

Pequenas coisas, ou grandiosas, dependendo de como queiram expô-las. A Primavera está chegando e as flores já começam a colorir o caminho entre minha casa e meu trabalho. Acompanhar essas reações da natureza, realmente me fazem agradecer aos céus pela temperatura agradável do dia de hoje. Agradecer o tão pouco que preciso para ser feliz e amar. A presença de uma pessoa importante, as cores marcantes das diversas flores e suas formas, o verde vivo, o céu extremamente azul, limpo, lindo!

Dias melhores sempre vêm. E os meus estão aí... como já dizia Gide e o cito novamente, "porque ser feliz, é natural".



segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Dia dos Pais para todos nós

Cresci ouvindo rock n´roll. Coisas de primeira como Roy Orbison, Simon & Garfunkel, Beatles, Stones, etc, etc, etc...
Neste Dia dos Pais, passeando por lojas para comprar algo para o meu, acabei entrando numa loja de CDs, comecei a vasculhar alguns nomes, acabei escolhendo um título que eu já gostava e meu pai também, porém, sabia que ele ainda não tinha: Egles - Hotel California. De quebra, acabei levando para mim o CSN&Y - Looking Forward. Mas não fiquei satisfeita com o presente de meu pai. Achei que ele merecia mais, merece mais. Afinal, sempre foi meu herói. Rodando ainda por algumas lojas, entrei em outra que também vende CDs e DVDs. Catando algumas coisas, peguei na mão um DVD do Simon & Garfunkel, até que o vendedor veio conversar comigo, ficamos trocando idéias sobre música e títulos e ele trouxe até mim uma caixinha do Traveling Wilburys, com dois CDs e um DVD. Meu pai, há muitos anos havia comprado uma fita cassete do grupo e quase que consegue fazer mais dois furos na fita de tanto ouvir.
O vendedor pôs o DVD para uma amostra. Vendo o primeiro clip já me arrepiei. Entrando numa sala os cinco músicos que compõe a banda,
George Harrison, Bob Dylan, Jeff Lynne, Tom Petty e Roy Orbison, com seus respectivos instrumentos... barbaridade!
Comprei, paguei caro, mas comprei. Meu pai merece. Ele merece porque foi quem mostrou para meus três irmãos e eu o que é música boa.
Este ano, começo a pensar que o Dia dos Pais é também o dia dos filhos, já que a data não existe oficialmente. E o presente, este eu já tenho, um pai que não é perfeito, mas que é exemplar em seus princípios e valores. E de quebra, adorador de boa música.
Ontem, enquanto meu pai fazia o churrasco dedicado a ele, a família reunida na sala, vendo The Traveling Wilburys.

Feliz Dia dos Pais!



Uma das músicas que mais gosto do grupo: Tweeter and The Monkey Man


quinta-feira, 24 de julho de 2008

O confortável toma lá dá cá


As palavras medidas no desconforto
Usar elas com intuito qualquer
Saber até onde elas alcançam
Duplicar os sentidos
O figurado, o literal
O censurado
Medidas no desconforto
E o conforto?
E o confortável?
E o controlável?
Descem como se fossem caroços de manga
Elas descem, nem que seja com um empurrão da dor
Elas ficam embrulhadas no estômago
Ou voltam ao ciclo da natureza
Toma lá dá cá!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Linda, linda canção

Sweet Memory

Tinderticks




Watching the days go by isn't half the fun it used to be
When I could reach out from inside the folds of your skin
Watching the sun rush by isn't as half as good now it's all silent ‘round here
Over the memory - the folds of your skin

And I never wanna spend another day, not a single moment from your side
No, I don't even wanna spend another day, not a single moment from your side
Over the memory - the folds of your skin
Over sweet memory - and I can taste no other

Came running from nowhere fast, came stumbling at me through the dark
Breaking right through my skin - and I can taste no other
Came like lightning in my arms, came tearing through the night

Inside the memory - I can taste no other
And I never wanna spend another day, not a single moment from your side
No, I don't even wanna spend another day, not a single moment from your side

Still running forwards and backwards I'm inside and outside your love
And over the memory - I can taste no other
Over sweet memory - I can see no other

Came like lightning through my heart - folds of your skin
Watching the sun ... by - I can taste no other

sexta-feira, 4 de julho de 2008

"Terno deslumbramento

Acolhe meu despertar!

Estou longe de pretender

Ao imaterial;

Mas amo-te, azul sem mancha.

Ligeiro com o Ariel

Morro se me amarro

A qualquer recanto do céu.


Nada há, que eu saiba

Mais substancial

Escutar-te é ouvir-te.

Não quero mais esperar

Para provar esse mel."



André Gide... em Os Frutos da Terra

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Até o outro dia

Os punhos dóem
Mãos quase não fecham

A dor da falta

Do movimento

Do tormento

Sem força


Nem mesmo pra apertar os dedos

Ao encontro da palma

Cravando as unhas

Com desespero da falta

Quase sem força

Respiração pesada e sem ritmo

Quase sem mexer
Músculos trêmulos e contraídos

Preciso dormir

Preciso deitar e ficar lá até amanhecer


Até criar cãimbras nos nervos do pés

Até vir o sonho ruim e me despertar

Quase sem força

Nem levanto da cama

Sem força

Nem me mexo nela


Quase sem força

Nenhuma lágrima

Até o outro dia

Quando a chuva passar

Quando o sol raiar

Quando ouvir novamente aquele passarinho

O que tem um ninho em minha varanda


Pronto

Cá estou

Em pé

Sol na cara

Quase sem força

Em pé e pronta pra um novo verão

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Outono de não ser, outono de não estar


O dia começou mais outono que nunca/Folhas de plátanos caídas/Crepúsculo quase da cor de sangue/Um som baixinho no carro/Pensamento a quilômetros de distância/Que faço aqui?
Doces desejos de ser/Instinto impulsivo de estar/Pulsares compassados.
Vejo outro carro em sentido contrário/A música volta aos meus ouvidos/A luz avermelhada, refletida nas folhas/O sangue do céu arde em meus olhos/Volto de onde estava/Ainda não posso ser, tão pouco estar.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Só isso, mais nada

Faz muitos dias que eu não publico nada aqui.
Mas o que me faz querer colocar algo para tanta gente ver/ler?
Bem, eu penso que deva ter algum conteúdo, no mínimo interessante para fazer com que as outras pessoas parem de fazer o que estão fazendo para ler o que eu escrevo. Mas, e se eu não tiver nada de interessante para falar? E se o meu interessante não for o teu interessante? E se as minhas opiniões não forem as mesmas que as tuas?

Viva a diferença!!!!


Eu não tinha nada de interessante para escrever aqui hoje. Mas como vocês podem pensar que eu sumi do mapa (dos blogues), cá estou para dar um sinal de vida.
Espero que isto te interesse :P

Só isso, mais nada!

Para constar: quando eu tiver algo interessante para falar, volto aqui, ok?

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Duas almas, uma vida




Assistindo o filme O PIANISTA, de Roman Polanski só confirmei, mais uma vez, a minha convicção sobre o ser humano. Nascemos bons ou nascemos maus.

Impressionei-me, talvez mais com que todo o resto do filme, com a cena em que Wladyslaw Szpilman, interpretado por Adrien Brody toca piano para o oficial alemão Wilm Hosenfeld, interpretado por Thomas Kretschmann, dentro de seu esconderijo, no gueto de Varsóvia. Um polonês judeu e um oficial nazista do exército alemão: a mesma alma. Enquanto Spzilman tocava para o oficial (por isso, sua vida foi poupada), fiquei pensando em como Hosenfeld agia perante sua tropa, perante as ordens de extermínio que recebia, perante toda a crueldade que já conhecemos desta Guerra. Teria ele se corrompido alguma vez? Teria ele assassinado alguém, a sangue frio como mostrava outras cenas do filme e de todos os outros filmes e documentários já vistos sobre este assunto? Não sei, não acredito nisso.

Ali, naquele esconderijo surgiu uma alma bondosa. Alguém que tinha a graça da bondade. Por isso, Szpilman foi salvo. O pianista, com toda certeza, se tivesse podido, teria feito o mesmo pelo oficial. Mas o alemão não pôde esperar, mataram-no antes. Hosenfeld morreu glorioso. Não diante dos olhos de uma nação, mas aos olhos de quem pôde sentir sua alma e sua intenção, mesmo que fosse somente diante daquela atitude de bondade para com o pianista.

Mais uma vez, mesmo que baseada numa obra de ficção, igualmente baseada em fatos reais, acredito na graça. Sim, aquela Graça que Santo Agostinho cita: “para salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo”. Nascemos bons ou nascemos maus e conciliamos a causalidade absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem.

Szpilman era bom. Hosenfeld era bom. E suas almas se encontraram para que uma delas fosse salva. E assim, que fossem salvas mais e mais com a sensibilidade e bondade deste pianista através de seu dom.

(Imagem da cena em que o pianista toca para o oficial)

terça-feira, 8 de abril de 2008

O dia em que verei The Doors



Sábado, dia 12 acontece em Porto Alegre a apresentação de alguns músicos, cuja formação vem sendo mencionada como The Doors. Ray Manzarek e Robbie Krieger, da formação originial da banda estarão presentes. John Densmore não virá: azar o dele. Jim Morrison, deverá estar se revirando em seu túmulo tão florido e cultuado. Mas no bom sentido, pois Morrison queria mesmo era ser ouvido. E acho que ele conseguiu o que queria em sua plenitude. Suas canções estão imortalizadas em papéis, em paredes, em portas de banheiros, em qualquer lugar que alguém possa atingir enquanto está a idolatrar as suas músicas.

Conheci The Doors há muitos anos e suas músicas me fascinaram, como devem ter fascinado a todos vocês que lêem agora este artigo. Tive, pelo menos umas três ou quatro paixões por causa de Doors. Garotos que eu conheci, e alguns vestiam-se com camisetas da banda, outros, escreviam poemas inspirados em suas canções, ou simplesmente por causa de comentários sobre o filme de Oliver Stone.
The Doors é uma das bandas de maior representação da minha vida. Foi com eles que eu aprendi a decifrar o que havia dentro do meu cérebro e coração. Foi com eles que eu aprendi, verdadeiramente a ouvir música em sua essência, baixando o volume enquanto ouvia The Crystal Ship para apreciar cada acorde, cada entonação da voz de Morrison e, com o volume baixo, forçando a audição e fazendo com que aquilo penetrasse em mim.
Assisti ao filme, pelo menos umas dez vezes. Sem exageros. E cada vez que o via, tinha sensações diferentes, mas igualmente intensas.
Doors era trilha sonora de nossas festas de adolescência. Talvez inspirados na cultura que Morrison idolatrava, dançávamos como xamãs no final de cada encontro da turma. Roadhouse Blues era a saideira. Que saudades!
Foi difícil escolher um vídeo que representasse o que mais gosto em The Doors. Mas gosto, além de sua poesia, da força, do toque intenso de seus instrumentos. Gosto das batidas, do órgão de Manzarek, dos gritos de Jim Morrison, da lentidão, da rapidez... Waiting for the Sun é uma das músicas que consegue me atingir dessa forma.

E é assim que faço hoje, ouço The Doors como forma de castigo, como forma de tortura para não deixar passar em branco esse show que Manzarek, Krieger e convidados farão. Ambos estarão lá pelo respeito que têm pelos fãs da banda. Ambos estarão lá pelo amor que têm por Jim Morrison. E ambos estarão lá para fazer com que sintamos a essência da verdadeira música, com sentimentos, poesia, ritmo e consistência de vida.
Aguardo, ansiosamente por este momento.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Sublimação de José Gonzalez


"Nascido e criado em Gotemburgo, Suécia, José Gonzalez é filho de argentinos, canta em inglês e sua música lembra o que seria um folk a lá Nick Drake com João Gilberto. Suas influências contemporâneas são Elliott Smith, Joe Pernice e Kings Of Convenience, mas sua voz traz lembranças de cantores clássicos da história da música pop como Mark Eitzel e Mark Kozeleck. Seu primeiro disco, Venner foi lançado em 2003".

Bem, este é um trecho da descrição de José Gonzalez usado na LAST FM. Mas quero dar um destaque especial ao disco In Our Nature, lançado no ano passado. Conheci José Gonzalez através de um grande amigo nordestino, muito crítico e conhecedor de boa música, Theo Alves.

Ele havia me passado algumas canções deste sueco-argentino e eu adorei de cara. Hoje, não sei porque cargas d´água achei o disco na internet e acabei baixando inteiro.

Caramba! Como foi que perdi tanto tempo sem ouvir esse disco na íntegra?

José Gonzalez consegue ser suave e tocante ao mesmo tempo. A alquimia de sua música, com ares latinos, meio bossa nova, com mescla de batuque... é simplesmente lindo!

Escolhi um videozinho forte da canção Teardrop, coincidentemente a primeira canção de Gonzalez que eu ouvi.

Está aí, talvez eu esteja atrasada no comentário sobre o disco, mas atual nos elogios. Eu poderia ouvir esse disco daqui há 50 anos e continuaria usando a mesma expressão para ele: sublime!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

"Sem dizer" e sem burocracia



É engraçado como muitas pessoas esbarram na burocracia. Chamo de burocracia toda forma de se limitar a fazer algo, pelo simples fato de não ter as condições que se acha necessário para uma realização. Seja ela qual for.

Hoje pela manhã, meu amigo Éver, do blog Solo Urbano mostrou-me um videozinho, da Insonia Produções que foi feito com toda simplicidade do mundo. Sem recurso nenhum, mas que teve um resultado bárbaro. Texto, trilha sonora, atuação e intenção... sem recursos faraônicos, a trupe passou seu recado "sem dizer" muito além disso.
Apreciem sem moderação.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Eu também quero

O que pode definir um sorriso?
Um suspiro?
Um palpitar do coração?
O que mais poderia
fazer os olhos brilhar?
E os movimentos tornarem-se leves?
O que pode ser?
O que se define de amor?
O que faz transbordar dos olhos as lágrimas?
Sejam sofridas
Sejam de euforia
Por que o amor?
Cadê o amor?
Se ele faz tão bem
Eu também quero!

sexta-feira, 7 de março de 2008

Ana Carolina me surpreendeu

Conversando com um colega querido, hoje de manhã, ele me contou que foi assistir ao show de Ana Carolina ontem, na Festa da Uva, em Caxias do Sul. Ele disse que ela era fodassa! Bem, confesso que não curto muito suas canções, algo não me atrai. Porém, ele me disse que ela leu um texto durante a apresentação. Imediatamente, ele expôs o texto citado na janela do msn. Segue ele abaixo, lindo, forte e o mais importante, me identifiquei com essas palavras. Digno de ser divulgado:

"Você me diz que eu te olho profundamente...
Desculpa, tudo que vivi foi profundamente.

Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.

Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse possibilidade de eu me inventar de novo.

Desculpa, desculpa se te olho profundamente, rente à pele
A ponto de ver seus ancestrais nos seus traços,
A ponto de ver a estrada antes dos teus passos.

Eu não vou separar minhas vitórias dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim; nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente.

Eu quero estar viva e permanecer te olhando profundamente!"

Ana Carolina

sábado, 1 de março de 2008

Palavras

Um adeus
Um poema
Um dilema

A canção
A feição
A solidão
O juramento

Delicadeza e
Pecado
Um pedaço
Um espaço

Sensações e
Percepções

Um gesto
Outro poema
Sussurro e
Afago

Palavras doces
Contos intermináveis
Vontades insaciáveis
Constante

Outra canção
À espera
De novo um poema
Um encontro
Feérico





Poema de Cláudia Kunst

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Chorei

O jeans sugava aquele liquido como se estivesse com sede. Como se fosse uma gota de água na areia do deserto. Era sobre meus joelhos que aquelas lágrimas caíam.
Tinham gosto amargo. Gosto de erva verde. De sal e açúcar. Com gosto de nada, gosto de dor.
No jeans, aquela gota sumiu, mas em minha pele penetrou. Meus joelhos sugaram a gota de minha angústia. Foram dos olhos que caiu. Os olhos que vêem a alegria que a vida promete. Os olhos que encolhem quando o sorriso aparece.
A lágrima amarga que cai, alivia. Tira do corpo a amargura em excesso. Faz penetrar no tecido desbotado e velho que se recusa a sair daquelas pernas. E quando molha, a lágrima o rejuvenece. Faz escurecer a brancura que o sol e o tempo deram àquele pano. Como faz com minha alma. Cada gota que cai, faz limpar meu espírito. Cada cúbico de água amarga expelida pelos meus olhos alegra meu peito, alivia a angústia de meus dias.
A gota secou. A calça voltou a ser desbotada e velha. E minha alma lavou-se com as gotas com gosto de erva, com gosto de nada e com a certeza de que mais uma vez voltarei a sorrir. Não tenho mais dor e meus olhos inchados aguardam o seu normal. A gota sumiu. As lágrimas secaram.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Lágrimas

Certo domingo, uma tristeza grande me tomou. Era uma tristeza saudável, não dolorida de sofrimento, mas dolorida de ausência, de falta, de saudade.
Hoje, essa tristeza dói porque é triste mesmo. Me sinto assim: triste, perdida, deslocada, sem perspectiva.
Naquele domingo, acabei escrevendo sobre as lágrimas. Escrevi num caderno e não o tenho aqui. Amanhã, o trago e repassarei para cá.
As lágrimas não me abandonaram, continuam me tomando, mas sei que elas irão se acalmar, sei disso.
Até brinquei que poderia mesmo fazer um samba nesse momento. Dizem que pra fazer um samba é preciso um bocado de tristeza, não é? Vinicius de Moraes sabia mesmo o que dizer.
Só lamento por serem lágrimas tristes. Só isso, mais nada.

Trecho memorável do Samba da Bênção:
"(Senão é como amar uma mulher só linda. E daí?Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza. Qualquer coisa que sofre / Qualquer coisa que chora /Qualquer coisa que sente saudade/Um molejo de amor machucado / Uma tristeza que vem da beleza /De se saber mulher / Feita apenas para amar /Para sofrer pelo seu amor / E para ser só perdão) "

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Sem marcas

Ela era magricela, mas tinha uma bunda grande. Ela tinha absoluta certeza de que não agradava os olhares dos meninos da escola. Sabia que seria a última a tocar os lábios de um guri. E realmente o foi. De suas amigas, foi a mais atrasada de todas. Sua mania era falar sobre música. Ela gostava. Talvez porque seu pai gostasse também. Desde criança ouvia os quadros dançarem nas paredes que se moviam por causa do alto volume do som. Ela sentia que, ao falar de bandas e grandes shows poderia fazer diferença àquelas alturas. Já que achava que os meninos não a olhavam como uma mulherzinha.Sua amiga beijou. E contou à magricela de bunda grande. Ela ficou feliz pela amiga, pois imaginou que poderia ser a próxima.Sua outra amiga beijou também. E também foi a primeira a ficar sabendo. Seu tênis verde, de lona, modelo All Star, de cano médio não era All Star. Era Rainha. Ele acusava a sua diferença entre a turma. Ninguém usava um tênis de lona verde. Não era moda. Mas ela não tinha dinheiro e sua prima havia deixado de usá-lo porque não era moda. As calças jeans, justas, coladas no corpo denunciavam a silhueta de uma mocinha que, ao se formar mulher, teria o quadril largo e cintura fina. As camisetas largas e compridas serviam para esconder as alças do sutiã. Pura vergonha. Mas não poderia deixar de usar o sutiã. Seus seios continuavam a crescer e começava a aparecer o formato arredondado e pontudinho de seus mamilos rosados. Acusava que seriam medianos. Mas aquilo não importava porque os meninos não os viam. As fitas cassete eram a febre do momento. E todas as tardes, depois do almoço que era servido depois de ter chegado da escola, ela se parava em frente ao rádio de seu pai, sintonizava uma rádio legal, esperava uma música legal e apertava o botão que se chamava REC. À tardinha, ia para o trabalho. Era repetitivo, mas até que ela gostava. Trabalhava com pessoas bacanas e adorava conversar com o patriarca daquela família de empreendedores. Ela ainda esperava um beijo. Ficava sempre vendo os guris bonitinhos da escola. À tarde, durante as gravações, imaginava o locutor com a voz bonita que anunciava as músicas que ela gravaria. Amava, platonicamente, o locutor, sem ter visto seu rosto. O tênis verde ainda resistia. Assim como o jeans justo, agora já batido e desbotado. Suas colegas já usavam o jeans begg, uma espécie de calça com quadril largo. As camisetas mudavam de cor, de estampa, mas continuava sendo as camisetas que escondiam a alça do sutiã. Sem marcas. Nenhuma marca. Pura vergonha. Naquela noite de sábado, após o trabalho que se estendia até a meia-noite, ela esperançava o primeiro beijo. Mas sabe-se lá... ela não andava na moda, se achava esquisitinha e não usava tênis bacana. Achava que nenhum menino a olharia.Mas tinha uma blusa justa no armário. Seu decote era profundo. Mostrava seu colo que já era sensual para sua idade. Mas não deixava à mostra os seios esbranquiçados de pequenos mamilos rosados. Não abriu mão do seu jeans, nem mesmo no sábado, ainda que não fosse moda aquele modelo tão justo. A blusa mostrava o colo, mostrava seus ombros e acusava que ali dentro havia um par de peitos.Um guri, que conversava sobre música, que conhecia a rádio bacana da qual esperava, todas as tardes as músicas para gravar, foi se chegando. Era amigo, do amigo da amiga que a acompanhou. Ela também já tinha beijado. Ele era bonitinho, tinha cabelos escuros e vestia um jeans surrado e cortado nas barras. Meio desfiado. Falava coisas bacanas sobre música. Ele também tinha fitas cassetes. Ele era legal. E a blusa acusava que ali tinham peitos. Pensou que devesse ter vestido uma camiseta. Ele não parava de olhar. Pura vergonha. E ele a beijou. E sua blusa marcava seus peitos. Ele beijou-a de novo. E no abraço apertado, ele sentiu que ali havia um par de peitos.

Conto de Cláudia Kunst

Imagem da obra de Salvador Dalí - Gala nua de costas, de 1960

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Boas-vindas a mim mesma

Nunca pensei em fazer um blogue. Mas com essa onda tecnológica, quase não sobra tempo de ler jornais ou revistas impressas. E os blogues tomaram conta mesmo! Vieram com tudo.
Cá estou. Vou escrever sobre o que penso, sobre o que quero e sem ninguém pra ditar regras. Se a internet pode servir pra alguma coisa, que sirva pra isto.
Mas fiquem tranquilos, futuros leitores, não escreverei sobre contos para dormitar bovinos. Assim espero.
Se gostarem, visitem sempre. Se não gostarem, não posso fazer nada!