quarta-feira, 24 de setembro de 2008
É o que tenho para ti
Não te deixarei nenhuma fortuna
Não tenho anéis de brilhantes ou colares de pérolas
Não tenho casa em meu nome, nem mesmo um automóvel quitado
Não tenho roupas de marcas famosas
Posso te deixar um mundo de sorrisos e de abraços apertados
Deixo-te meu amor infinito e nem vais precisar de procuração para tomares posse
Ele é todo teu
Minhas mãos em tuas bochechas
E meus lábios finos a beijá-las: lembranças
Não tenho conta bancária recheada de reais
Tampouco dólares ou euros, que nem sei qual a cotação hoje
Não faz diferença do quanto juntei nesta vida
Vivi pouco até aqui para juntar algo
Mesmo assim, meu mundo é teu
Marquei meu corpo com teu nome e dele não sairá mais
Tenho meu exemplo de honestidade para te deixar
Minha honradez
Não siga os meu erros
Tu vais errar também, mas não repita os meus
És inteligente o suficiente para não cometê-los
Lute como uma guerreira e ame como uma santa
Não te arrependas de seus erros, mas evite cometê-los
Penses duas, três, mil vezes antes de agires
Dou a ti meu amor eterno
Entrego a ti minha alma
Olhes para nosso amor e o tenha como base para tua luta
A vida é de luta
Mas se colhe bons frutos
Alguns azedos, outros extremamente doces
Não reclames de nada
Sigas em frente e proves para si mesma a capacidade que tens
Não proves para mais ninguém, somente a ti mesma
Sejas honesta consigo e serás honesta com o mundo
Amo-te mais que a mim mesma
Sigas teu coração em plenitude
E se quiseres seguir alguns de meus passos
Que sigas os que eu acertei
Os passos em falso, que te sirvas de lição sem ter que tomá-las para si
É isto que te deixo, minha querida Laura.
Um amor incondicional
Um amor que só vi uma vez nesta vida: o de minha mãe para comigo
E este amor, estendo a ti
À minha filha, com todo amor do mundo
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Emily Dickinson
Um sorriso muito parco, uma palavra excessiva
E longe dos céus, como o resto -
A alma, tão próxima do Paraíso -
E se após longa jornada a ave,
Por amores confundida como ocorre aos mortais,
Esquece o segredo de sua asa
E, com apenas um ramo interposto, perece?
Ó, errantes pés,
Ó, espectral rainha!
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Uma ânsia...
Havia bebidas lá. De todos os tipos e outras ainda que não consegui identificar. Mesas abarrotadas de cartas e bebidas. Pares de mãos para todos os lados. Eu observando de longe. Dois homens, ambos bêbados. Agora do lado de fora do boteco. Adultos e barbudos. Um homem segurou o outro homem. O soco no nariz e uma rasteira nas pernas. Caíram. Os dois homens rolaram pela calçada em frente ao boteco.
Mais homens bebendo do lado de fora, sentados em suas cadeiras. Bebendo e assistindo os dois homens bêbados se baterem. Eu observando de longe. A blusa de um dos homens rasga e ele fica mais furioso. Aponta o dedo para o nariz do outro homem e diz que ele vai pagar por isso. Os homens, os dois, bêbados e machucados. Os outros homens bebendo e assistindo a tudo passivamente.
Um dos homens foi embora e o de blusa rasgada retornou ao interior do boteco. Peito estufado, ele batera forte no outro. E o outro foi embora, com o rabo entre as pernas. Peito estufado, blusa rasgada, cerveja na mesa e as cartas lá. Os pares de mãos o aguardavam para terminar a jogatina. Liguei o carro, fui embora com ânsia de vômito. Dois homens, ambos bêbados e eu, com ânsia de vômito.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
O juízo final
Difícil compor uma fisionomia para aquele rosto cheio de rugas e marcas firmadas pelo sol. Mãos calejadas e braços fortes do peso que carregava cotidianamente. Par de botas não mais preto, mas marrom da poeira da estrada. Lá na esquina, lá estava. Mais uma vez as pessoas passavam por ele e baixavam a cabeça. Tinha fama de delinquente, organizava confusões pelos lugares por onde passava. Era odiado por gente de família e venerado pelos foras da lei.
Mas o que fazia ele naquela encruzilhada que dava para o centro da cidade? Tinha mãos calejadas e agora suadas. Seu jeans surrado e camisa com a gola quase
Mais um ônibus, agora o último do dia. Levantou-se do meio fio, onde ficou sentado durante horas e horas e avistou alguém saindo daquele coletivo. Saias longas, sapatos baixos, bustos fartos... Em seguida, um senhor que caminhava com dificuldade; prestou-se a ajudá-lo e assim, uma desculpa para ficar ainda mais próximo do ônibus. Conseguia avistar uma fila de passageiros naquele corredor sem fim. Mas não esperou muito, após descer a sexta pessoa, quem ele tanto aguardava chegou. Um sapato preto brilhante e um tecido azul escuro sobre as pernas. Uma bolsa discreta e humilde. Via-se que ali dentro não havia muita coisa. Figurino ajustado, elegante, apesar de simples e bem cuidado. Sim, chegou quem tanto esperava.
Descia naquela esquina seu irmão mais novo. Quase uma versão sua de tão parecido. Vindo de um lugar distante e próspero. Moço estudado e já com uma profissão em sua carteira. Mas sua vida mudaria dali por diante, assim como a do resto da família. Vindo de longe, trazendo a esperança de uma vida mais tranqüila à sua mãe que moribunda estava angustiando a presença do que restava de sua família em casa e junta.
Um abraço fraterno e um aperto de mão saudoso. Sim, a vida prometia uma segunda chance. Medo, apreensão da perda, mas a compensação de realizar um último pedido de quem o criou e tanto fez para que seguisse seus bons exemplos. Pretendiam seguir o mais rápido possível para sua casa, alguns quilômetros daquela esquina. Fez conforme prometera à sua mãe, e agora desejava partir
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Longa madrugada
Vento que uiva, daqueles de dar medo
Daqueles de rezar
Vento de levantar a cortina
Vento de refrescar
Madrugada longa
Assustada no meio dela
Despertando do sonho
Olhando a claridade que vem das
luzes da rua
Entre as frestas da janela
Olhando o teto que agora é negro
E os estalos da madeira
Vento que uiva
Levanta a cortina
Sozinha e sem dormir
Mais uma madrugada
De vento uivante
Sonolenta, mas sem concentração
Encosto a cabeça na parede
Sentada na cama
Pernas cobertas pelo lençol
Que penso
Por que penso
O que resolvo
O que sinto
Calor e o vento fresco
Cabeça pesada na parede
Durmo sentada
Dores pelo corpo e os sonhos
Uma luz do meu lado
Despertador
Uma madrugada mais acabou
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Muito obrigada e um sorriso
"Mas a gratidão é tão doce e é-me tão necessariamente doce amar que a menor carícia do ar desperta um agradecimento em meu coração. A necessidade de gratidão ensina-me a fazer felicidade de tudo o que vem a mim".
Frutos da Terra de André Gide. Este trecho, tenho em meu computador e deparei com ele hoje pela manhã. Enquanto isso, tocava Roll Over Beethoven do Chuck Berry no media player. Deu vontade de levantar da cadeira, sair rodopiando em pleno escritório da empresa. Não fiz, nem farei, mas meu tronco mexeu, inevitável não mexer com esse som estimulante, com o reflexo do sol que entrava pela janela e com a felicidade que estava sentindo.
Pequenas coisas, ou grandiosas, dependendo de como queiram expô-las. A Primavera está chegando e as flores já começam a colorir o caminho entre minha casa e meu trabalho. Acompanhar essas reações da natureza, realmente me fazem agradecer aos céus pela temperatura agradável do dia de hoje. Agradecer o tão pouco que preciso para ser feliz e amar. A presença de uma pessoa importante, as cores marcantes das diversas flores e suas formas, o verde vivo, o céu extremamente azul, limpo, lindo!
Dias melhores sempre vêm. E os meus estão aí... como já dizia Gide e o cito novamente, "porque ser feliz, é natural".